Ele nos ouve

Uma breve meditação sobre o Salmo 116

Sl 116:1-2 Amo o SENHOR, porque ele ouve a minha voz e as minhas súplicas. Porque inclinou para mim os seus ouvidos, eu o invocarei por toda a minha vida.

Ele nos ouve - Uma meditação

Pr. Fabiano Ribeiro


O salmista revela o sentimento do seu coração para com o Senhor Deus. Este sentimento não se desenvolveu à toa, mas foi fruto de um processo de sofrimento e livramento que Deus lhe permitiu viver.

Isto nos leva a meditar no quanto Deus tem cuidado conosco. Cuidado em nos conduzir por caminhos que nos levam a Ele mesmo. Cuidado para que as experiências de nossas vidas nos conduzam a ser pessoas melhores, com mais disposição para servir-lhe e ao próximo.

O salmista inicia seu depoimento revelando o sentimento resultante de sua experiência: “Amo o Senhor”, e isto mostra que tudo que passaria a ser escrito, a seguir, seria fruto de uma experiência de vida que, no final, tivera um resultado favorável. Surge, então, um sentimento de gratidão e amor a Deus, por tudo que Ele havia feito.

E qual foi então a experiência do Salmista?

Em primeiro lugar ele foi ouvido. O texto revela que Deus ouviu a sua voz, as suas súplicas e ainda inclinou os Seus ouvidos para ouví-lo.

Quem não gosta de ser ouvido? Esta é uma necessidade muito real para o ser humano. Nós queremos ser ouvidos, nos sentimos bem ao ser ouvidos. Há quem gaste muito dinheiro pagando para ser ouvido por profissionais de áreas diversas. A alma se sente liberta quando colocamos para fora coisas que nos angustiam, sendo ouvidos por outros. 

O mundo cristão está acostumado a ser ouvido. Foram séculos de uso dos confessionários, para sermos ouvidos por alguém. Tiago, irmão do Senhor, recomenda em sua carta que confessemos as nossas culpas uns aos outros (ser ouvidos pelo outro). Davi chega a dizer o quanto falar ao Senhor de suas culpas era aliviador. Paulo também estimula os irmãos, em sua carta aos Filipenses, que falem para Deus as suas necessidades, pois receberão uma Paz que excede o entendimento. Por último podemos dizer o quanto Jesus estimulava as pessoas a falarem para serem ouvidas. Mesmo diante de situações evidentes, Jesus estimulava os necessitados dizendo: “o que queres que eu te faça?”. Tudo isto nos faz entender o quanto é importante falarmos e sermos ouvidos. Ser ouvido nos faz sentir valorizados, apoiados e importantes.

Em segundo lugar, percebemos que o salmista viveu um processo de sofrimento. Um processo que foi se intensificando gradualmente ao longo de um período, cuja duração não está especificada, mas foi suficiente para marcar a alma do salmista. Neste tempo ele experimentou sofrimento e tristeza, a ponto de compará-las a “laços de morte” e “angústias do inferno”. Ele descreve ainda a sua experiência como correntes que o prendiam e como se estivesse prostrado, do hebraico “dalal”, que sugere desfalecimento, humilhação e “estar pendurado”. Mas não só isto, ao longo do Salmo ele cita o risco de morte, o choro e a possibilidade de queda, dos quais o livrou o Senhor. 

Podemos entender a forma como o autor expôs o primeiro e segundo versículos do Salmo como fases.

Em uma primeira fase ele revela que Deus ouviu a sua voz. 

A expressão “ouve a minha voz” significa que em algum momento este salmista elevava a voz em oração ao Senhor. Até aqui o salmista ainda orava de forma normal, talvez com uma voz natural, audível e protocolar. Até aqui o problema estava em fase inicial e ainda não havia causado seus maiores efeitos na vida do salmista.

Imaginemos esta fase como o momento em que ainda não fomos completamente afetados pelo que estamos vivenciando. Fase em que reconhecemos o problema, entendemos sua dimensão, estamos dispostos a agir e a orar porque compreendemos que esta é a forma mais adequada de tratar o problema, mas não o fazemos de forma intensa, íntima, profunda e sentimental, porque de alguma forma o problema ainda não nos afetou completamente, e achamos que ainda temos o controle da situação.

Quero usar um exemplo para que você entenda o que chamo de “orar de forma normal”, ato tão necessário e importante na vida de cada um de nós.

A Bíblia nos fala de pessoas que faziam orações regulares, de forma a apresentarem a Deus os seus desejos, necessidades e angústias, bem como as necessidades dos outros, como intercessores. Daniel, por exemplo, habitualmente orava três vezes ao dia. O Texto Sagrado revela este momento como sendo uma prática habitual de Daniel, que ele empregava em horários definidos e no qual deveria apresentar a Deus o seu louvor, a sua adoração, os seus problemas cotidianos, os dos seus amigos e os do seu povo. Neste sentido poderia ser “ouvida a sua voz”. Da mesma forma percebe-se a atitude de oração de Jó, que diariamente apresentava a Deus o seu clamor por sua vida e por seus filhos. 

No entanto, o salmista demonstra ter tido um agravamento em sua condição, onde, agora, ele experimentava um maior efeito de seus problemas, a ponto de não mais orar de forma normal, mas assumir uma atitude de súplicas ao Senhor. E aqui quero mencionar a segunda fase da experiência do salmista.

A súplica já não é mais uma oração normal, protocolar, mas a intensificação desta. Os dicionários caracterizam a súplica como um pedido insistente e humilde, frequentemente desesperado. E Deus ouviu as suas súplicas.

A súplica envolve um ato de oração bem mais intenso, onde os sentimentos estão muito envolvidos, e onde costuma haver choro, quebrantamento, clamor e, pode-se dizer, desespero. Neste ato intenso de oração nós empregamos maior força interior e buscamos nos livrar dos sentimentos ruins que surgem dentro de nós e que costumam ser de medo, insegurança, incerteza, ameaça ou dor. Isto por nós mesmos ou por quem amamos. 

Suplicamos porque queremos que Deus responda de forma urgente, para nos livrar destes sentimentos ruins que nos perturbam e voltar a trazer a paz que precisamos para o nosso coração. O salmista entrou nesta fase não porque quisesse, mas porque estes sentimentos ruins produziram nele a necessidade. Ele só poderia confiar que Deus, que ouvia as suas orações, agora também ouviria as suas súplicas.

Mas os problemas parecem ter piorado ainda mais, e o livramento e a vitória que o salmista almejava não vieram no tempo que ele imaginava, e a angústia se agravou, a ponto de compará-la às angústias do inferno, ou seja, à condição mais grave, mais profunda, mais assoladora que um ser humano poderia experimentar.

Nesta terceira fase de sua experiência, o salmista parece não ter mais forças para orar ou suplicar. Talvez a sua angústia e sofrimento interior tenham chegado ao ápice do que poderia suportar, tanto que descreve a experiência como a de estar prostrado.

Aqui o texto fica muito interessante, já que o salmista não tinha mais forças nem para orar e nem para suplicar, estava desfalecendo. Talvez a sua súplica, aqui, se assemelhasse à de Ana, quando somente movia os lábios para expressar ao Senhor, com o coração, do fundo do poço da angústia, o que sua alma desejava. Este “gemido da alma” se assemelha ao que Paulo fala, mais na frente, sobre a ação do Espírito Santo ao interceder por nós, quando nos conduz a “gemidos inexprimíveis”, cujo poder de ação e compreensão são guardados por uma “criptografia espiritual” que só o Pai Celestial consegue compreender.

O salmista viveu esta experiência de forma tão intensa, que ele reconhece, com gratidão intensa e voto de fidelidade eterna ao Senhor, o momento em que Deus “inclina os ouvidos” para ele.

Ah! Como o Senhor é maravilhoso! Os seus ouvidos não estão agravados para não poder ouvir, diz Isaías, e nem sua mão encolhida, para que não possa salvar.

Quando estamos no mais profundo abismo, na mais absoluta escuridão dos sentidos; quando a “luz no fim do túnel” não pode ser vista e já não há esperança aparente e nem nos sobra fôlego para suplicar, somente gemidos quase imperceptíveis, podemos ter a certeza de que o Senhor inclinará os ouvidos para nos ouvir e há de estender as mãos para nos socorrer.

Ele é quem nos tira do charco de lodo, livra nossa alma da morte, nossos olhos das lágrimas e nossos pés da queda.

O sentimento de gratidão e amor que brotam do livramento e da resposta de Deus para nós enche a nossa alma de refrigério e de paz.

O sentimento que o salmista experimentou é verdadeiro. Depois desta experiência ele decidiu continuar invocando ao Senhor por toda a vida.

Devemos aprender com o salmista. A cada dia buscar ao Senhor, invocá-lo, declarar o nosso amor por Ele e oferecer a Ele nossos votos de gratidão diante de todos.


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