O verdadeiro discípulo

Uma reflexão sobre Mateus 16:24-25

O verdadeiro discípulo

Pr. Fabiano Pinheiro Ribeiro


Aqueles que desejam seguir a Cristo são desafiados a uma atitude radical: a renúncia.

De fato o ato de renunciar é condição para os que desejam seguir a Cristo. Não há um caminho diferente. 

Entretanto, o ato de seguir a Cristo é voluntário, é para os que querem. Mt 16:24 “Então, disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz e siga-me; porque aquele que quiser salvar a sua vida perdê-la-á, e quem quer perder a sua vida por amor de mim achá-la-á.”.

As palavras de Jesus neste texto das escrituras nos dizem muita coisa sobre seguí-lo.


1.Seguir a Jesus precisa ser um ato voluntário

A condição expressa no texto é “se” alguém quiser seguí-lo. Esta expressão destaca o ato de escolha pessoal, um ato voluntário, originado do perfeito juízo humano, cujos olhos precisam ser abertos pela fé. Pedro, por exemplo, em Mt 16:17, acabara de receber uma grande revelação que o levou a reconhecer Jesus Cristo como o Filho de Deus. “E Jesus, respondendo, disse-lhe: Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque não foi a carne e sangue quem to revelou, mas meu Pai, que está nos céus.” Mt 16:17


Antes de decidir seguir a Cristo, o ser humano precisa primeiro crer nele e identificá-lo como Filho de Deus


O mesmo homem que havia recebido a revelação de Deus sobre o seu filho, ainda carregava consigo a imperfeição da natureza humana que o tornava suscetível às influências do maligno, fazendo-o pensar carnalmente e conforme os desejos e anseios voltados para aquilo que era melhor para a “pessoa humana” de Jesus e não para o “servo de Deus”, Jesus. Neste sentido, as palavras de Pedro vieram para por em dúvida a missão do Servo, pois focava em preservar a pessoa humana. Por causa disto Jesus precisou interpelar Pedro para corrigir seu pensamento, repreendendo a influência maligna sobre a mente carnal de Pedro, que continuava ativa dentro dele. Jesus então lhe mostra que a prioridade da vida é o Reino de Deus, onde os verdadeiros tesouros do homen são depositados, e não a vida pessoal, limitada e temporária. Mt 16:23 “Ele, porém, voltando-se, disse a Pedro: Para trás de mim, Satanás, que me serves de escândalo; porque não compreendes as coisas que são de Deus, mas só as que são dos homens.”

Não deixamos de ser humanos quando cremos em Jesus. Somos iluminados, salvos e recebemos uma nova vida e uma nova natureza, porém também carregamos a nossa natureza humana original, imperfeita, herdada de Adão, com seus desejos e cobiças, até o dia da Redenção, em que Cristo nos transformará naquilo que seremos definitivamente. Até lá precisamos renunciar ativamente a esta natureza corrompida e perversa, para servir a Cristo e seguí-lo.


2.Renunciar a si mesmo também consiste em uma escolha

Neste caso escolhemos manter sob controle os desejos, aspirações e ambições da natureza humana, sujeitando toda nossa vida aos princípios da Palavra de Deus, em obediência ao Senhor. 

Esta escolha não é simples porque muitas de nossas práticas, que não agradam a Deus, agradam muito a nós mesmos, nos trazem alegria, prazer e realização pessoal, de outro modo ninguém as adotaria. 

Neste sentido, surge o ensino de Jesus sobre a renúncia pessoal, que abrange pelo menos três aspectos bem definidos: Renúncia do próprio “eu”, renúncia do que mais amo e renúncia da própria vida. 

Então vejamos:


2.1. Renúncia do próprio “eu”

Citada no texto base de nossa reflexão: “... renuncie-se a si mesmo...” v. 24, a renúncia ao próprio “eu” sempre foi um tema muito debatido no meio cristão, e não deve ser esquecido, pois vivemos um período onde o ser humano está inclinado ao narcisismo, ao egocentrismo e ao egoísmo, em detrimento da fé e do seu próximo.

Neste sentido, podemos esclarecer três aspectos do “renunciar a si mesmo”:

a.Renunciar aos desvios morais

Conforme 2 Tm 3:1-5: “Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos; porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons, traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te.”. Estas atitudes representam desvios morais e de atitude e também graves pecados contra Deus e contra o próximo e devem ser renunciadas por aqueles que desejam seguir a Cristo.

b.Renunciar às inclinações carnais

Conforme Gl 5:16-21: “Digo, porém: Andai em Espírito e não cumprireis a concupiscência da carne. Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne; e estes opõem-se um ao outro; para que não façais o que quereis. Mas, se sois guiados pelo Espírito, não estais debaixo da lei. Porque as obras da carne são manifestas, as quais são: prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, invejas, homicídios, bebedices, glutonarias e coisas semelhantes a estas, acerca das quais vos declaro, como já antes vos disse, que os que cometem tais coisas não herdarão o Reino de Deus.”. Estas práticas do “velho homem” devem, igualmente, ser abandonadas por quem se propõe a ser discípulo de Cristo e seguí-lo verdadeiramente.

c.Deixar de gloriar-se para confiar no Senhor

Conforme nos ensina alguns textos como os de 2Co 10:17-18 “Aquele, porém, que se gloria, glorie-se no Senhor. Porque não é aprovado quem a si mesmo se louva, mas, sim, aquele a quem o Senhor louva.”; assim como Jr 9:23-24 “Assim diz o SENHOR: Não se glorie o sábio na sua sabedoria, nem se glorie o forte na sua força; não se glorie o rico nas suas riquezas. Mas o que se gloriar glorie-se nisto: em me conhecer e saber que eu sou o SENHOR, que faço beneficência, juízo e justiça na terra; porque destas coisas me agrado, diz o SENHOR.” Há uma inclinação do homem a valorizar a si mesmo e ignorar aquilo que Deus faz por ele, tornando-se soberbo e ingrato.

Do mesmo modo, encontramos em textos como 1Co 4:7 “Porque quem te diferença? E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te glorias como se não o houveras recebido?” onde entendemos que tudo de bom que somos e possuímos vem do Senhor; e também Jr 17:7 “Bendito o varão que confia no SENHOR, e cuja esperança é o SENHOR.” onde somos estimulados a confiar em Deus acima de tudo.


2.2.Renúncia daquilo que nos parece mais valioso

Um outro aspecto da renúncia diz respeito àquilo que julgamos mais valioso em nossas vidas. Na sociedade de Israel, o respeito às relações na família patriarcal era levado muito a sério. O quinto mandamento da Lei trazia uma ordem de respeito e honra aos pais. Em Mateus 10:37 Jesus diz: “Quem ama o pai ou a mãe mais do que a mim não é digno de mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a mim não é digno de mim.” e utiliza o exemplo desta relação, com tal nível de importância para o ser humano individual, para expressar o quanto maior deve ser nosso amor por Ele mesmo, a ponto deste amor e dedicação serem superiores até mesmo às nossas relações mais importantes, como a de filhos e pais e vice-e-versa.

Esta verdade reafirma com clareza o mais importante mandamento: “Amarás, pois, ao Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento.” Mc 12:30

Um pouco mais a frente, em Mateus 16:26 e em outras ocasiões Jesus também menciona a importância de priorizarmos o Reino de Deus e não nossas próprias necessidades materiais.

“Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma? Ou que dará o homem em recompensa da sua alma?” Mt 16:26

“Não andeis, pois, inquietos, dizendo: Que comeremos ou que beberemos ou com que nos vestiremos? (Porque todas essas coisas os gentios procuram.) Decerto, vosso Pai celestial bem sabe que necessitais de todas essas coisas; Mas buscai primeiro o Reino de Deus, e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas.” Mt 6:31-33

Então entendemos que a renúncia ao que nos parece mais valioso não é uma ordem para desprezarmos aquilo que é importante, mas sim um incentivo para considerarmos o Senhor e o Seu Reino como nossa prioridade, acima de todas as outras coisas.

Temos exemplos na Bíblia de homens que buscavam a vida eterna mas que retrocederam quando foram convidados a substituir o que lhes parecia mais importante, como em Lc 18:33 “Mas, ouvindo ele isso, ficou muito triste, porque era muito rico.” e em 2Tm 4:10 “Porque Demas me desamparou, amando o presente século, e foi para Tessalônica...”.


2.3.Renúncia da própria vida

Em se tratando de renunciar à própria vida, podemos tomar como exemplo os discípulos Paulo e Barnabé. 

Em sua primeira viagem missionária, passando em Antioquia da Pisídia, Listra, Icônio e Derbe, Paulo foi apedrejado até quase morrer, conforme At 14:19, mas ao levantar-se, ao invés de desistir de pregar o Evangelho do Reino, ele voltou pelas cidades onde as pessoas haviam se convertido e confirmava a fé e o ânimo dos irmãos, incentivando-os a permanecerem fiéis, mesmo diante da perseguição e do sofrimento por Cristo. “E, tendo anunciado o evangelho naquela cidade e feito muitos discípulos, voltaram para Listra, e Icônio, e Antioquia, confirmando o ânimo dos discípulos, exortando-os a permanecer na fé, pois que por muitas tribulações nos importa entrar no Reino de Deus.” At 14:21-22.

O sofrimento pelo Reino de Deus é ensinado aos discípulos e vivido por aqueles que resolvem seguir a Cristo. Neste particular, nem tudo obedece aos nossos desejos e previsões ou segue um caminho que imaginamos.

“Pelo que, não podendo esperar mais, de boa mente quisemos deixar-nos ficar sós em Atenas; e enviamos Timóteo, nosso irmão, e ministro de Deus, e nosso cooperador no evangelho de Cristo, para vos confortar e vos exortar acerca da vossa fé; para que ninguém se comova por estas tribulações; porque vós mesmos sabeis que para isto fomos ordenados; pois, estando ainda convosco, vos predizíamos que havíamos de ser afligidos, como sucedeu, e vós o sabeis.” 1Ts 3:1-4

“Tu, porém, tens seguido a minha doutrina, modo de viver, intenção, fé, longanimidade, caridade, paciência, perseguições e aflições tais quais me aconteceram em Antioquia, em Icônio e em Listra; quantas perseguições sofri, e o Senhor de todas me livrou. E também todos os que piamente querem viver em Cristo Jesus padecerão perseguições.” 2Tm 3:10-12

O apego a esta vida material vai de encontro ao sentimento que deve ser priorizado em no nosso coração.

“Qualquer que procurar salvar a sua vida perdê-la-á, e qualquer que a perder salvá-la-á.” Lc 17:33

E para finalizar esta reflexão, não poderia deixar de mencionar algo sobre a expressão “tome a sua cruz”.

A prática da crucificação era um ato horrendo e impunha grande sofrimento aos que o vivenciavam. Os crucificados eram obrigados a carregar a peça de madeira horizontal ou mesmo a cruz toda, normalmente após uma sessão de açoites. Além disto o ato da crucificação era um escândalo para os judeus, uma vez que a Lei considerava malditos os que eram crucificados. Ao mencionar este ato como sendo um componente da jornada dos que estariam dispostos a seguí-lo, Jesus deixa claro que o Caminho da Vida possuía sofrimentos, humilhações e perseguições, e claro, que não seria um caminho fácil. No entanto, ele também deixa claro que o que aconteceria com Ele também seria o destino de seus seguidores. Ele sofreu por nós mas venceu e alcançou a glória eterna, que também está reservada aos que o seguem e vencem.

Portanto, devemos entender que a vida cristã possui momentos de renúncia, sofrimento e dificuldade, mas é o Senhor quem nos sustenta e abençoa. Ele nos dá forças para chegar ao fim da caminhada e tem reservado para nós uma coroa de glória.

“E o Senhor me livrará de toda má obra e guardar-me-á para o seu Reino celestial; a quem seja glória para todo o sempre. Amém!” 2Tm 4:18


Deus abençoe a sua vida


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